"O Caminha Cultural "

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

REMINISCÊNCIAS HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS DO PIAUÍ

Príncipe Imperial e sua Troca com a antiga Amarração, hoje Luís Correia. Questões de Limites Não Resolvidas ou Mal-resolvidas Entre Ceará e Piauí na Serra Grande a Depender de um Final Feliz. 

            A vila de Príncipe Imperial foi desmembrada de Castelo do Piauí (antiga Marvão) em troca com Amarração, hoje Luís Correia. Este município é encravado na faixa litorânea de dez léguas de terras ou sessenta e seis quilômetros lineares de comprimento, localizada às margens do Atlântico, no extremo norte do Estado do Piauí. Apesar da entrega de Amarração em troca de uma área muito fértil e maior, formada pelas terras ribeirinhas do rio Poty, o Ceará nunca cumpriu as outras disposições do referido decreto imperial nº 3.012, de 22 de outubro de 1880, claramente em favor do Piauí. Conforme demonstra João Gabriel Baptista em seus Mapas Geohistóricos, de 1986, munindo-se, também de outras fontes mais antigas, Amarração em 1861 era um povoado de pescadores piauienses e foi ocupado, aos poucos, pelos padres da freguesia de Granja (CE), sob a alegação dúbia de batizar os moradores. Como se não bastassem as agressões à posse da povoação piauiense, em 1823, sob propósito de protegê-la contra as tropas do Major luso, João José da Cunha Fidié, a expedição comandada pelo cearense João Andrade Pessoa “tomou conta do local e não o devolveu” jamais. Em 1832, o ex-secretário da Província do Piauí e Deputado por Sergipe declarava ser do Piauí aquela região. Demais disso, em 1835 a Assembléia Legislativa Piauiense alertava o Governo Federal contra a invasão. Contra tudo e contra todos em 1865 (época da guerra do Paraguai), o governo cearense, para confirmar a posse precária, clandestina e indevida sobre Amarração, criou a freguesia do mesmo nome. O Piauí voltou, em vão, a protestar, alegando, extrajudicialmente, invasão de suas terras, entretanto, sem êxito. E até onde se sabe, não ingressou no Judiciário para reavê-la do poder daquele que injustamente a possuía (o Ceará).
Como se observa, até aonde se pode discernir, o Piauí trocou uma área sua consequente do devassamento e ocupação (Amarração), por outra área fértil e mais extensa, também, de sua propriedade mansa e pacífica (Príncipe Imperial, hoje Crateús, Independência, Novo Oriente, Piranhas). Essa extensa e produtiva superfície territorial compõe a ribeira do Poty, no Ceará, ocupada e colonizada para o Piauí pelo bandeirante paulista, Domingos Jorge Velho e ao tempo em que este estado era colonizado. Foi um presente grego que os alencarinos ofertaram aos mafrensinos e estes receberam irrefletidamente.
Para consolo dos piauienses de ontem e de hoje, ficou convolado nas negociações (escritas e orais) que logo seria construído ali, em Amarração, o seu porto marítimo. Hoje, passados 131 anos daquele negócio desastroso, realizado em 1880, somente uma mínima estrutura foi montada, correspondente à parte da primeira etapa da grande obra, incapaz, ainda, de ancorar qualquer navio de pequeno, médio ou grande calado. Falam, à boca pequena, entretanto, que o volume do dinheiro empregado na inconclusa primeira etapa da construção, neste quase um século de obra iniciada, que pára, começa e recomeça, sucessivamente, num incontável início e fim, daria para construir e entregar à navegação marítima algum dos melhores portos do globo terrestre.
Conforme notícias veiculadas a jornais da terra, de abril de 2008, o porto de Luís Correia será o menor de todos quantos se edificaram no país, mesmo inteiramente terminado. Consta que um contrato firmado com uma empresa de navegação do Ceará, para dar continuidade àquela obra, somente agora, depois de vinte anos, foi rescindido sob argumento de que nada fez. É preciso informar, também, ao cidadão piauiense, se e quanto o Estado pagou à contratada. Demais disso, há fundado receio de que parte da verba para ele destinada tenha sido desviada de sua finalidade, na noite dos tempos. E que, para tanto, seria aberto inquérito civil público pela Procuradoria Geral da República, com a finalidade de comprovar se houve desvio ou não. O alento é que, segundo ainda outros informes, apesar das deficiências da “ex-quase futura obra”, foi aprovado importe de doze milhões de reais para a construção de sua segunda e última etapa. Se, apesar de somente agora isso acontecer, miex veaux tard que jamais, como dizem os franceses.
Continuando nossa fala sobre a questão dos limites do Piauí com o Ceará, o Decreto Imperial nº 3.012, de 22 de outubro de 1880, além da troca, simplesmente, de Amarração, previu a negociação entre os dois Estados, na Serra Grande ou Ibiapaba.  Com efeito, dispôs que esta Serra serviria de linha divisória entre as duas províncias, hoje estados do Piauí e Ceará e que todas as vertentes ocidentais da mesma serra pertenceriam àquele e a este as orientais (Costa, pág. 347). O decreto disciplina textualmente que o Ceará aceitou como pertencentes ao Piauí todas as vertentes ocidentais. Entretanto, a área do Piauí situada nas referidas vertentes foram ocupadas pelo Ceará e este nunca devolveu. Em 1900 Josino José Ferreira comentava em relatório oficial que na área usurpada existiam cerca de 60.000 habitantes. Consta que a área litigiosa tem aproximadamente 2.615 km2, distribuída em três parcelas: uma ao norte, com 354, outra ao centro, com 546 e a última, ao sul, mais importante, com 1.715 km2, aproximadamente (BAPTISTA. p. 28).


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